Ser mulheres juntas não era suficiente. Éramos diferentes. Ser garotas gays juntas não era suficiente. Éramos diferentes. Ser negras juntas não era suficiente. Éramos diferentes. Ser mulheres negras juntas não era suficiente. Éramos diferentes. Ser negras sapatonas juntas não era suficiente. Éramos diferentes... Levou algum tempo para percebermos que nosso lugar era a própria casa da diferença e não a segurança de alguma diferença em particular. (Audre Lorde)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Quando crescia (Nellie Wong)


Eu sei agora que alguma vez desejei ser branca.
Como? Perguntas tu.
Deixa-me contar-te as maneiras.

quando crescia, a gente me dizia
que era escura, e eu acreditava em minha obscuridade
no espelho, em minha alma, em minha própria visão estreita

quando crescia, minhas irmãs
de pele branca eram exaltadas
por sua beleza, e na obscuridade
eu caia mais, preocupada entre paredes altas

quando crescia, lia revistas
e via filmes, estrelas loiras do cinema, pele branca,
lábios apaixonados e para ser elevada, para ser
uma mulher, uma desejada, comecei a usar
pele branca imaginária.

quando crescia, estava orgulhosa
de meu inglês, minha gramática, meu soletrar
de pertencer, caber num grupo de meninas inteligentes
inteligentes meninas chinesas, de pertencer,
de ser parte, de estar na fila

quando crescia e fui ao secundário
descobri as garotas brancas ricas,
umas poucas garotas amarelas,

com seus vestidos de algodão importado
com seus suéteres de casimira,
com seu cabelo cacheado e pensei que eu também deveria ter
o que estas garotas afortunadas tinham

quando crescia, me esfomeava
a comida americana, estilos americanos,
senha: estilo branco e até para mim, uma menina
nascida de pais chineses, ser chinesa
era sentir-me estrangeira, era limitante,
era não- norte-americana

quando crescia, me sentia envergonhada
de certos homens amarelos, seus ossos finos,
seus corpos frágeis, seu cuspir
pela rua, sua tosse,
deitados em quartos sem sol,
injetando-se nos braços.

quando crescia, a gente perguntava
se eu era filipina, polinésia, portuguesa.
nomeavam todas as cores menos o branco, a casca
de minha alma, porém não de minha tosca pele escura

quando crescia me sentia
suja. Acreditava que deus
fez limpas as pessoas brancas
e não importava quanto eu me banhasse
não podia trocar, não podia mudar
minha pele em água cinza

quando crescia jurei
que iria  fugir para as montanhas púrpuras,
casas ao lado do mar sem nada sobre
minha cabeça, com espaço para respirar,
não congestionada pela gente amarela da área
chamada o Povochinês, numa área que depois aprendi
era um bairro pobre, um de muitos corações
da ásia-américa

Eu sei agora que alguma vez desejei ser branca.
Quantas maneiras mais? Perguntas tu.
Já não te disse o suficiente?

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